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Gazeta Mercantil - Quinta-feira 19 de janeiro de 2006.

CASAS INDUSTRIALIZADAS - Cresce o uso de estruturas de aço

Construtoras ampliam número de obras e já exportam para Emirados Árabes

MARIA LUÍZA FILGUEIRAS
SÃO PAULO

O uso de estruturas de aço na construção civil está crescendo no Brasil. Apesar de ter ainda participação incipiente no mercado, empresas como a Construtora Sequência e a Steel Frame do Brasil ampliam o número de obras e até mesmo exportam. A tecnologia das chamadas casas industrializadas — desenvolvida em países avançados como Estados Unidos, Canadá e Reino Unido — trazem como principais benefícios a velocidade de término da obra e o menor desperdício de materiais.

O sistema de montagem steel frame utiliza bases de aço galvanizado, formato que tem origem na colonização norte-americana.“A princípio, as estruturas eram de madeira, mas foram substituídas pelo aço, que é reciclável”, diz Alexandre Mariutti, diretor da Sequência. A empresa começou a trabalhar com o sistema de montagem há dez anos, importando todo o material dos Estados Unidos. Hoje, a produção é inteiramente nacional.

A maior vantagem é a rapidezde construção e o conforto termo-acústico, graças ao revestimentoem dry wall, feito com chapas de gesso acartonado fixadas sobre estruturas metálicas. “Quando você bate na parede, sente que ela é oca e por isso tem a impressão de que é mais frágil acusticamente, mas não é. Por dentro, ela é revestida com lã de vidro, que possibilita um controle maior do som”, diz Mariutti.

Grandes redes de salas de cinema, como a Cinemark, utilizam essa estrutura — e não se ouve barulho de uma sala para a outra. O isolamento acontece mesmo com a menor espessura das paredes: em dry wall, tem média de 10 cm de espessura, enquanto a tradicional de alvenaria tem 40 cm.

Quanto ao tempo de obra, uma edificação com estruturas de aço leva apenas três meses para entrega.

A convencional demora, no mínimo, oito meses. Segundo Mariutti, a tendência é de utilização em obras comerciais, pela necessidade ,de prazos curtos. “O custo é semelhante ao de obras tradicionais, mas o pagamento é um empecilho. Você pode construir uma casa pagando R$ 300 mil dentro de um ano, mas são poucos aqueles que podem dispor dessa quantia em três meses”.

Bernardo Sondermann, diretor da Steel Frame do Brasil, reforça: “Depende do objetivo da obra. Para quem quer fazer um loteamento em três anos, pois não tem capital de giro, essa construção realmente não é uma opção. Por outro lado, quem precisa de um prédio em período curto, é a solução”. Os clientes da Steel Frame são variados, entre residenciais e comerciais. “De casa de bingo e escritórios a residências de luxo e populares. Temos obras no litoral e não há problema de ferrugem, já que o aço é galvanizado”.

O uso das paredes de dry wall já é maior na hotelaria, mas a montagem em steel frame tem limitação de altura. “Como a estrutura é leve, construímos prédios baixos. Nos edifícios com mais andares, as estruturas precisam ser reforçadas.

” A empresa, que existe há dois anos, está entregando um condomínio residencial de 13 prédios em Bragança Paulista, cada um com quatro andares. “Somos novos no mercado, mas nosso parceiro, a Ko far Produtos Metalúrgicos, já trabalha com steel frame há cinco anos. Fazemos 20 obras por ano e já exportamos casas para os Emirados Árabes, Caribe e Angola. Temos preços melhores de aço e mão-de-obra, por isso nos tornamos competitivos em relação aos norte-americanos, canadenses e ingleses.

”Em 2005, a Steel Frame enviou a Dubai, nos Emirados Árabes, sete contêineres com todo o material necessário para a obra e uma pequena equipe para montar as casas e treinar os operários locais.“No Brasil é um mercado emergente, mas é o futuro da construção”.

O valor do metro quadrado varia de R$ 450 a R$ 1,3 mil, de acordo com o acabamento, diz Mariutti. “O valor mínimo (R$ 450) seria de uma casa popular”. O arquiteto destaca que o sistema poderia reduzir o déficit habitacional brasileiro.

DESPERDÍCIO

“A construção brasileira não está globalizada; o método convencional é arcaico em comparação a modelos como steel frame. Na obra convencional, você executa cada bloco artesanalmente, há muito desperdício de material, enquanto no nosso sistema a parede chega pronta”, diz Mariutti. Conforme Sondermann, na construção convencional, há perda de 20% a 30% de material, além do custo da caçamba. Na construção industrializada, não existe caçamba. A padronização do sistema também facilita o controle de qualidade e reduz a necessidade de mão-de-obra.

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